segunda-feira, 2 de março de 2009

Homilia da Celebração das Cinzas




Com esta Quarta-Feira de Cinzas, iniciamos o Tempo da Quaresma e com ele o ciclo pascal da Igreja. O Centro deste ciclo é o Mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo.
No coração deste ciclo está o Tríduo Pascal, celebrado em Quinta-Feira Santa, Sexta-Feira Santa e Vigília Pascal. A Quaresma é a sua preparação, durante 40 dias, com 6 domingos. Seguir-se-ão 50 dias de celebração da Páscoa de Jesus Cristo e da Presença do Seu Espírito na vida da Igreja e do mundo até ao Domingo de Pentecostes.
Todo este ciclo é o tempo forte da comunidade cristã, para contemplar o itinerário de Jesus até à Sua Morte e Ressurreição.
Enquanto cabeça da Igreja, Ele convida-nos a segui-lo, a morrer e a ressuscitar com Ele. Ele é o Primogénito de toda a criatura que, amando-se e entregando-se até ao fim, refez o caminho errado de Adão e abriu o caminho da vida nova para toda a Humanidade, convidada de participar na Sua Páscoa. Num mundo cheio de indecisões, amarguras e superficialidades, em que o mais importante e essencial é constantemente posto em lugar subalterno, nós acreditamos que podemos encontrar a verdadeira luz da vida em Jesus Cristo e na Sua Mensagem; acreditamos na força do Seu Espírito, que constantemente nos dá a vida e a esperança.
Esta Quaresma convida-nos por um lado a contemplar o itinerário de Jesus, na obediência total à vontade do Pai; por outro lado, convida-nos a rever os nossos caminhos. Se fizermos com seriedade o confronto dos nossos caminhos com o caminho de Cristo descobriremos a distância entre o caminho de Jesus fiel, humilde, amoroso, generoso até à morte e o percurso dos nossos caminhos.
Nessa distância está o nosso pecado; pecados que havemos de saber reconhecer, mas sobretudo querer eliminar com a nossa atitude de conversão. Precisamos, por isso, de reconhecer que somos egoístas, indiferentes, interesseiros, sensuais, agarrados às coisas materiais, pouco dispostos para o diálogo e o perdão.
A Quaresma é forte apelo de Deus para a nossa conversão e acolhimento do perdão divino que se manifesta na pessoa de Jesus Cristo.
No uso da sua pedagogia sábia e secular, a Igreja recomenda-nos para este tempo litúrgico da Quaresma principalmente 3 práticas: o jejum, a oração e a esmola, a que acrescentamos a Leitura mais intensa da Palavra de Deus. Pela oração intensificamos a comunhão com Deus; pelo jejum crescemos na autodisciplina e sobretudo na nossa disponibilidade interior para acolher as inspirações de Deus; pela esmola fortalecemos a generosidade para com o próximo; no encontro mais regular e intenso com a Palavra de Deus motivamos o encontro vivo e vital com Cristo.
Esta Quarta-Feira é marcada pelo gesto da imposição das cinzas. A cinza simboliza todo o programa espiritual da Igreja. É o reconhecimento do nosso pecado e da nossa fraqueza - “Lembra-te que és pó…”; é o sinal do nosso arrependimento e da nossa conversão – “arrependei-vos e acreditai no Evangelho”.
Vamos viver intensamente a nossa Quaresma. E Vivê-la-emos intensamente se soubermos contemplar o caminho de Jesus para a morte e ressurreição; se aceitamos o convite que nos vai ser dirigido de muitos modos ao longo dos próximos dias, sobretudo na liturgia dos domingos para percorrer o mesmo caminho que Ele percorreu. Assim aprenderemos o que é a verdadeira vida que nos é oferecida no Baptismo e ficaremos mais iniciados nela.

Catedral da Guarda, 25 de Fevereiro de 2009
+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda

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