1. Neste primeiro domingo da Quaresma, escutámos o Senhor, que nos fala ao coração sobre o caminho que devemos seguir em direcção a Ele eao Seu Reino. Neste percurso abundam as tentações que nos apontam outros caminhos. Não é para admirar, porque Ele mesmo também foi tentado, como nos lembra o Evangelho de hoje.
O tempo da Quaresma é um tempo especial, que nos convida a parar diante do mundo e da sociedade, mas também e sobretudo cada um diante de si mesmo e da sua consciência, para avaliar a justeza do caminho que está a ser percorrido. O critério dessa avaliação está na oração, onde experimentamos a presença de Deus e descobrimos a verdadeira fonte de esperança e de sentido para a nossa vida.
Vivemos hoje, de facto, num mundo onde a presença de Deus e os seus sinais não são espontaneamente reconhecidos. Pelo contrário, a cultura dominante orgulha-se da sua laicidade, na medida em que a vida das pessoas e sobretudo a vida pública são decididas e organizadas à margem de Deus e da relação com Ele. Mais ainda, a presença de Deus e dos seus sinais no palco da vida social é vulgarmente considerada uma intrusão indevida.
Todavia, se estivermos atentos à história e à vida da sociedade actual, reconheceremos os efeitos negativos desta expulsão de Deus do quadro das relações sociais. De facto, isso não está a resultar em crescimento da estabilidade e do efectivo reconhecimento dos direitos de todos. Pelo contrário, está a abrir caminho à progressiva imposiçlão da lei do mais forte. Se não, vejamos como crescem as desigualdades sociais e como está a ser difícil a luta contra a pobreza e a exclusão social. Além disso, quando se tenta fechar apessoa no horizionte apertado do desenvolvimento simplesmente material, ela fica, de facto, empobrecida e morre o seu mais autêntico dinamismo de realização pessoal que consiste em fazer relações humanase sociais baseadas nos valores espirituais e sobrenaturais.
Vivemos hoje, de facto, num mundo onde a presença de Deus e os seus sinais não são espontaneamente reconhecidos. Pelo contrário, a cultura dominante orgulha-se da sua laicidade, na medida em que a vida das pessoas e sobretudo a vida pública são decididas e organizadas à margem de Deus e da relação com Ele. Mais ainda, a presença de Deus e dos seus sinais no palco da vida social é vulgarmente considerada uma intrusão indevida.
Todavia, se estivermos atentos à história e à vida da sociedade actual, reconheceremos os efeitos negativos desta expulsão de Deus do quadro das relações sociais. De facto, isso não está a resultar em crescimento da estabilidade e do efectivo reconhecimento dos direitos de todos. Pelo contrário, está a abrir caminho à progressiva imposiçlão da lei do mais forte. Se não, vejamos como crescem as desigualdades sociais e como está a ser difícil a luta contra a pobreza e a exclusão social. Além disso, quando se tenta fechar apessoa no horizionte apertado do desenvolvimento simplesmente material, ela fica, de facto, empobrecida e morre o seu mais autêntico dinamismo de realização pessoal que consiste em fazer relações humanase sociais baseadas nos valores espirituais e sobrenaturais.
Argumentava-se, antes com o preconceito de que a religião seria inimigada ciência e do desenvolvimento, preconceito esse que chegou a ser introduzido em alguns programas escolares da nossa escola pública, felizmente corrigidos; argumenta-se hoje com dificuldades criadas pelo pluralismo religioso na organização social e com o caso mais extremodo fundamentalismo religioso, gerador de guerras e conflitos sociais.
E com base nestes argumentos alguns querem concluir que Deus não existe ou pelo menos lhe deve ser negado lugar no palco da vida social para não criar problemas, relegando-o, quando muito, para o reduto intimista das consciências. Se aceitássemos esta opção que, mesmo entre nós, alguns continuam a querer impôr pelo menos na organização da vida pública, estaríamos a roubar às pessoas e à rede das suas relações o factor mais determinante da verdadeira vida com qualidade.
Por isso, nós cristãos e comunidades cristãs, ao fazermos a experiência de Deus na relação viva e vital com Cristo Ressuscitado, para além de cumprirmos a nossa vocação no que ela tem de mais verdadeiro, temos consciência de estar a prestar o melhor dos serviços à própria sociedade.
2. Hoje, a Palavra de Deus começa por nos falar na consciência viva que o verdadeiro israelita tem de ser acompanhado por Deus em toda a sua história pessoal e comunitária. Por isso, aquele sacrifício deacção de graças em que são oferecidos a Deus os primeiros frutos da terra, através das mãos do sacerdote, é a expressão tipo deste reconhecimento. Para todos nós, discípulos de Cristo, a Fé, que nasce da Palavra e germina no coração, determina e organiza toda a nossa vida pessoal com repercussões, na vida da sociedade. De facto, é o coração esse lugar onde se tomam as decisões, que depois se transformam em atitudes e actos, os quais necessariamente hão-de marcar a vida social com os valores humanizantes que o Evangelho inspira.
2. Hoje, a Palavra de Deus começa por nos falar na consciência viva que o verdadeiro israelita tem de ser acompanhado por Deus em toda a sua história pessoal e comunitária. Por isso, aquele sacrifício deacção de graças em que são oferecidos a Deus os primeiros frutos da terra, através das mãos do sacerdote, é a expressão tipo deste reconhecimento. Para todos nós, discípulos de Cristo, a Fé, que nasce da Palavra e germina no coração, determina e organiza toda a nossa vida pessoal com repercussões, na vida da sociedade. De facto, é o coração esse lugar onde se tomam as decisões, que depois se transformam em atitudes e actos, os quais necessariamente hão-de marcar a vida social com os valores humanizantes que o Evangelho inspira.
Também é verdade que em todo este processo que vai do encontro com Deus, na Pessoa de Cristo até às atitudes e actos da nossa vida pessoal com repercussões na sociedade, aparecem tentações. Não temos que nos admirar, pois também Jesus foi tentado, como nos lembra o Evangelho de hoje. De facto, Jesus, no seu caminho messiânico,
encontrou a tentação da riqueza – transforma estas pedras em pão;
encontrou a tentação do poder – tudo isto te darei se me adorares;
encontrou a tentação da facilidade – lança-te daqui para baixo que Deus virá em tua ajuda.
Estas e outras tentações continuam hoje a colocar-se às pessoas do nosso tempo, a começar por aquelas que exercem maiores responsabilidades na condução da vida social. E quando não há coragem para vencer estas e outras tentações, entramos, de facto, por caminhos de degradação pessoal, com efeitos perversos na própria organização da sociedade. Aparece assim a praga que vulgarmente se chama corrupção, ou seja o aproveitamente em benefício exclusivamente pessoal de bens que são da comunidade. Infelizmente, temos de reconhecer que se, em geral, houvesse mais coragem para vencer as tentações, sobretudo as que se colocam a quem conduz a vida social, todos sairíamos beneficiados.
Como demonstram os factos que estão à vista, pelo menos no que diz respeito ao uso dos bens materiais, estamos longe de conseguir aquela equitativa distribuição, que a justiça não só recomenda, mas nos impõe. Assim, o exercício formal da nossa justiça não está a impedi rque, por exemplo, haja pessoas colocadas em empresas públicas do nosso país a ganhar num só ano quantias que muitos portugueses, talvez a maior parte, não conseguem ganhar em toda a sua vida de trabalho. Num ano europeu de luta contra a pobreza e a exclusão social casos deste género bradam aos céus e reclamam outra justiça diferente daquela que as nossas instituições estão a aplicar. Também é difícil de entender que, estando o sistema de segurança social no nosso país em risco de ruptura, estejam a tardar os sinais claros de contenção nas reformas exageradamente elevadas que estão a ser pagas a alguns portugueses.
Como também não percebemos a falta de coragem para impôr tectos salariais a quem mais ganha neste país e que não se lhes peçam os sacrifícios que lhes deviam ser pedidos para caminharmos em direcção ao equilíbrio das nossas contas públicas externas, um dos problemas que mais estão a afectar a imagem do nosso país para o exterior e com evidentes repercussões negativas na vida dos cidadãos portugueses. É injusto querer pedir os mesmos sacrifícios tanto aos que mais ganham como aos que menos ganham, num país como o nosso que, entre os 27 da comunidade europeia, é aquele onde existe maior distância entre os muito ricos e os muito pobres e, pior ainda, com tendência para se agravar.
encontrou a tentação da riqueza – transforma estas pedras em pão;
encontrou a tentação do poder – tudo isto te darei se me adorares;
encontrou a tentação da facilidade – lança-te daqui para baixo que Deus virá em tua ajuda.
Estas e outras tentações continuam hoje a colocar-se às pessoas do nosso tempo, a começar por aquelas que exercem maiores responsabilidades na condução da vida social. E quando não há coragem para vencer estas e outras tentações, entramos, de facto, por caminhos de degradação pessoal, com efeitos perversos na própria organização da sociedade. Aparece assim a praga que vulgarmente se chama corrupção, ou seja o aproveitamente em benefício exclusivamente pessoal de bens que são da comunidade. Infelizmente, temos de reconhecer que se, em geral, houvesse mais coragem para vencer as tentações, sobretudo as que se colocam a quem conduz a vida social, todos sairíamos beneficiados.
Como demonstram os factos que estão à vista, pelo menos no que diz respeito ao uso dos bens materiais, estamos longe de conseguir aquela equitativa distribuição, que a justiça não só recomenda, mas nos impõe. Assim, o exercício formal da nossa justiça não está a impedi rque, por exemplo, haja pessoas colocadas em empresas públicas do nosso país a ganhar num só ano quantias que muitos portugueses, talvez a maior parte, não conseguem ganhar em toda a sua vida de trabalho. Num ano europeu de luta contra a pobreza e a exclusão social casos deste género bradam aos céus e reclamam outra justiça diferente daquela que as nossas instituições estão a aplicar. Também é difícil de entender que, estando o sistema de segurança social no nosso país em risco de ruptura, estejam a tardar os sinais claros de contenção nas reformas exageradamente elevadas que estão a ser pagas a alguns portugueses.
Como também não percebemos a falta de coragem para impôr tectos salariais a quem mais ganha neste país e que não se lhes peçam os sacrifícios que lhes deviam ser pedidos para caminharmos em direcção ao equilíbrio das nossas contas públicas externas, um dos problemas que mais estão a afectar a imagem do nosso país para o exterior e com evidentes repercussões negativas na vida dos cidadãos portugueses. É injusto querer pedir os mesmos sacrifícios tanto aos que mais ganham como aos que menos ganham, num país como o nosso que, entre os 27 da comunidade europeia, é aquele onde existe maior distância entre os muito ricos e os muito pobres e, pior ainda, com tendência para se agravar.
3. Perante este quadro de vida social, a precisar de corajosas correcções como acabamos de verificar, nós como cristãos e comunidades cristãs sentimos que a relação com Deus na oração é a grande alavanca capaz de nos mobilizar para despertarmos em nós e nos outros aquela vida de qualidade que as pessoas no fundo de si mesmas desejam. A oração é um acto vital para nós, que desejamos viver a Fé em Cristo como a fonte organizadora de toda a nossa vida pessoal e comunitária; mas ela também continua a ser o nosso grande contributo para uma vida social cada vez mais humanizada. Isto é verdade, mesmo quando alguns nos querem fazer crer que numa sociedade laica não há lugar para Deuse consequentemnte para a relação com Ele na oração.
Nós desejamos fazer pessoal e comunitariamente a experiência viva do encontro com Deus, que vem, de facto, ao nosso encontro e nos trata como amigos. Por sua vez, ma medida em que formos capazes de fazer esta experiência viva de Deus em nós, seremos mais capazes de descobrir os seus sinais que estão presentes no mundo. E nesses sinais Ele aponta a todos caminhos de justiça e de bem.
A relação com Cristo Ressuscitado e vivo e por Ele com ao mistério da Santíssima Trindade determina as nossas vidas de cristãos e comunidades cristãs e envia-nos, para, com a força do Espírito Santo, sermos no meio do mundo, fermento da renovação evangélica.
A experiência da oração no Povo Bíblico com particular relevância para figuras tipo, como são as de Abraão, de Moisés ou de David, é uma importante escola de vida. Mas o grande Mestre da oração é para nós o próprio Jesus Cristo. Vemos nele o exemplo, pela forma como na sua vida pública vivia a continuada intimidade com o Pai. E não lhe faltaram momentos especiais, como aqueles em que, por exemplo, se recolhia em lugares de silêncio para fazer oração. Vemos nele o mestre que ensina os seus discípulos a rezar, particularmente quando os manda recitar a oração do Pai Nosso. Sentimo-lo, por fim, como parte integrante da nossa oração, quando esta lhe é dirigida. De facto, o encontro vivo e vital com Cristo Ressuscitado é o cerne da oração cristã.
Estamos num ano sacerdotal, que pretende principalmente lembrar a todos nós sacerdotes e ao Povo de Deus em geral que o Padre, para ser realmente padre tem de ser homem de Deus e portanto homem de oração.Só assim conseguiremos aquela identificação com Cristo cabeça e pastor do seu Povo de que somos sinal por missão recebida no sacramento da Ordem. Estamos convencidos de que a oração nos fortalece na esperança para levarmos esperança à Igreja e ao mundo. Na oração sentimos fortalecida a nossa Fé e também nos motivamos para que a caridade pastoral seja sempre o critério organizador da nossa vida pessoal e em Presbitério.
O bem da Igreja e mesmo da nossa sociedade pede-nos que sejamos padres segundo o coração de Cristo. E nós ousamos pedir a todo o Povo de Deus que, sobretudo, pela oração intensa a favor dos seus pastores, nos ajude a cumprir esta importante missão que o Senhor nos confia e é absolutamente necessária para a vida da Igreja e para a autêntica humanização do mundo.
Irmãos e irmãs, que esta quaresma seja para todos nós oportunidade bem aproveitada para redescobrir o verdadeiro sentido da oração nas nossas vidas pessoais, na vida das nossas famílias e na vida das nossas comunidades da Fé e, assim, também a sociedade em geral possa sair beneficiada.
Guarda, 21 de Fevereiro de 2010,
Manuel R. Felício, Bispo da Guarda
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