segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

I Domingo da Quaresma

A oração num mundo secularizado e materialista.


1. Neste primeiro domingo da Quaresma, escutámos o Senhor, que nos fala ao coração sobre o caminho que devemos seguir em direcção a Ele eao Seu Reino. Neste percurso abundam as tentações que nos apontam outros caminhos. Não é para admirar, porque Ele mesmo também foi tentado, como nos lembra o Evangelho de hoje.
O tempo da Quaresma é um tempo especial, que nos convida a parar diante do mundo e da sociedade, mas também e sobretudo cada um diante de si mesmo e da sua consciência, para avaliar a justeza do caminho que está a ser percorrido. O critério dessa avaliação está na oração, onde experimentamos a presença de Deus e descobrimos a verdadeira fonte de esperança e de sentido para a nossa vida.
Vivemos hoje, de facto, num mundo onde a presença de Deus e os seus sinais não são espontaneamente reconhecidos. Pelo contrário, a cultura dominante orgulha-se da sua laicidade, na medida em que a vida das pessoas e sobretudo a vida pública são decididas e organizadas à margem de Deus e da relação com Ele. Mais ainda, a presença de Deus e dos seus sinais no palco da vida social é vulgarmente considerada uma intrusão indevida.
Todavia, se estivermos atentos à história e à vida da sociedade actual, reconheceremos os efeitos negativos desta expulsão de Deus do quadro das relações sociais. De facto, isso não está a resultar em crescimento da estabilidade e do efectivo reconhecimento dos direitos de todos. Pelo contrário, está a abrir caminho à progressiva imposiçlão da lei do mais forte. Se não, vejamos como crescem as desigualdades sociais e como está a ser difícil a luta contra a pobreza e a exclusão social. Além disso, quando se tenta fechar apessoa no horizionte apertado do desenvolvimento simplesmente material, ela fica, de facto, empobrecida e morre o seu mais autêntico dinamismo de realização pessoal que consiste em fazer relações humanase sociais baseadas nos valores espirituais e sobrenaturais.
Argumentava-se, antes com o preconceito de que a religião seria inimigada ciência e do desenvolvimento, preconceito esse que chegou a ser introduzido em alguns programas escolares da nossa escola pública, felizmente corrigidos; argumenta-se hoje com dificuldades criadas pelo pluralismo religioso na organização social e com o caso mais extremodo fundamentalismo religioso, gerador de guerras e conflitos sociais.
E com base nestes argumentos alguns querem concluir que Deus não existe ou pelo menos lhe deve ser negado lugar no palco da vida social para não criar problemas, relegando-o, quando muito, para o reduto intimista das consciências. Se aceitássemos esta opção que, mesmo entre nós, alguns continuam a querer impôr pelo menos na organização da vida pública, estaríamos a roubar às pessoas e à rede das suas relações o factor mais determinante da verdadeira vida com qualidade.
Por isso, nós cristãos e comunidades cristãs, ao fazermos a experiência de Deus na relação viva e vital com Cristo Ressuscitado, para além de cumprirmos a nossa vocação no que ela tem de mais verdadeiro, temos consciência de estar a prestar o melhor dos serviços à própria sociedade.

2. Hoje, a Palavra de Deus começa por nos falar na consciência viva que o verdadeiro israelita tem de ser acompanhado por Deus em toda a sua história pessoal e comunitária. Por isso, aquele sacrifício deacção de graças em que são oferecidos a Deus os primeiros frutos da terra, através das mãos do sacerdote, é a expressão tipo deste reconhecimento. Para todos nós, discípulos de Cristo, a Fé, que nasce da Palavra e germina no coração, determina e organiza toda a nossa vida pessoal com repercussões, na vida da sociedade. De facto, é o coração esse lugar onde se tomam as decisões, que depois se transformam em atitudes e actos, os quais necessariamente hão-de marcar a vida social com os valores humanizantes que o Evangelho inspira.
Também é verdade que em todo este processo que vai do encontro com Deus, na Pessoa de Cristo até às atitudes e actos da nossa vida pessoal com repercussões na sociedade, aparecem tentações. Não temos que nos admirar, pois também Jesus foi tentado, como nos lembra o Evangelho de hoje. De facto, Jesus, no seu caminho messiânico,
encontrou a tentação da riqueza – transforma estas pedras em pão;
encontrou a tentação do poder – tudo isto te darei se me adorares;
encontrou a tentação da facilidade – lança-te daqui para baixo que Deus virá em tua ajuda.
Estas e outras tentações continuam hoje a colocar-se às pessoas do nosso tempo, a começar por aquelas que exercem maiores responsabilidades na condução da vida social. E quando não há coragem para vencer estas e outras tentações, entramos, de facto, por caminhos de degradação pessoal, com efeitos perversos na própria organização da sociedade. Aparece assim a praga que vulgarmente se chama corrupção, ou seja o aproveitamente em benefício exclusivamente pessoal de bens que são da comunidade. Infelizmente, temos de reconhecer que se, em geral, houvesse mais coragem para vencer as tentações, sobretudo as que se colocam a quem conduz a vida social, todos sairíamos beneficiados.
Como demonstram os factos que estão à vista, pelo menos no que diz respeito ao uso dos bens materiais, estamos longe de conseguir aquela equitativa distribuição, que a justiça não só recomenda, mas nos impõe. Assim, o exercício formal da nossa justiça não está a impedi rque, por exemplo, haja pessoas colocadas em empresas públicas do nosso país a ganhar num só ano quantias que muitos portugueses, talvez a maior parte, não conseguem ganhar em toda a sua vida de trabalho. Num ano europeu de luta contra a pobreza e a exclusão social casos deste género bradam aos céus e reclamam outra justiça diferente daquela que as nossas instituições estão a aplicar. Também é difícil de entender que, estando o sistema de segurança social no nosso país em risco de ruptura, estejam a tardar os sinais claros de contenção nas reformas exageradamente elevadas que estão a ser pagas a alguns portugueses.
Como também não percebemos a falta de coragem para impôr tectos salariais a quem mais ganha neste país e que não se lhes peçam os sacrifícios que lhes deviam ser pedidos para caminharmos em direcção ao equilíbrio das nossas contas públicas externas, um dos problemas que mais estão a afectar a imagem do nosso país para o exterior e com evidentes repercussões negativas na vida dos cidadãos portugueses. É injusto querer pedir os mesmos sacrifícios tanto aos que mais ganham como aos que menos ganham, num país como o nosso que, entre os 27 da comunidade europeia, é aquele onde existe maior distância entre os muito ricos e os muito pobres e, pior ainda, com tendência para se agravar.



3. Perante este quadro de vida social, a precisar de corajosas correcções como acabamos de verificar, nós como cristãos e comunidades cristãs sentimos que a relação com Deus na oração é a grande alavanca capaz de nos mobilizar para despertarmos em nós e nos outros aquela vida de qualidade que as pessoas no fundo de si mesmas desejam. A oração é um acto vital para nós, que desejamos viver a Fé em Cristo como a fonte organizadora de toda a nossa vida pessoal e comunitária; mas ela também continua a ser o nosso grande contributo para uma vida social cada vez mais humanizada. Isto é verdade, mesmo quando alguns nos querem fazer crer que numa sociedade laica não há lugar para Deuse consequentemnte para a relação com Ele na oração.
Nós desejamos fazer pessoal e comunitariamente a experiência viva do encontro com Deus, que vem, de facto, ao nosso encontro e nos trata como amigos. Por sua vez, ma medida em que formos capazes de fazer esta experiência viva de Deus em nós, seremos mais capazes de descobrir os seus sinais que estão presentes no mundo. E nesses sinais Ele aponta a todos caminhos de justiça e de bem.
A relação com Cristo Ressuscitado e vivo e por Ele com ao mistério da Santíssima Trindade determina as nossas vidas de cristãos e comunidades cristãs e envia-nos, para, com a força do Espírito Santo, sermos no meio do mundo, fermento da renovação evangélica.
A experiência da oração no Povo Bíblico com particular relevância para figuras tipo, como são as de Abraão, de Moisés ou de David, é uma importante escola de vida. Mas o grande Mestre da oração é para nós o próprio Jesus Cristo. Vemos nele o exemplo, pela forma como na sua vida pública vivia a continuada intimidade com o Pai. E não lhe faltaram momentos especiais, como aqueles em que, por exemplo, se recolhia em lugares de silêncio para fazer oração. Vemos nele o mestre que ensina os seus discípulos a rezar, particularmente quando os manda recitar a oração do Pai Nosso. Sentimo-lo, por fim, como parte integrante da nossa oração, quando esta lhe é dirigida. De facto, o encontro vivo e vital com Cristo Ressuscitado é o cerne da oração cristã.
Estamos num ano sacerdotal, que pretende principalmente lembrar a todos nós sacerdotes e ao Povo de Deus em geral que o Padre, para ser realmente padre tem de ser homem de Deus e portanto homem de oração.Só assim conseguiremos aquela identificação com Cristo cabeça e pastor do seu Povo de que somos sinal por missão recebida no sacramento da Ordem. Estamos convencidos de que a oração nos fortalece na esperança para levarmos esperança à Igreja e ao mundo. Na oração sentimos fortalecida a nossa Fé e também nos motivamos para que a caridade pastoral seja sempre o critério organizador da nossa vida pessoal e em Presbitério.
O bem da Igreja e mesmo da nossa sociedade pede-nos que sejamos padres segundo o coração de Cristo. E nós ousamos pedir a todo o Povo de Deus que, sobretudo, pela oração intensa a favor dos seus pastores, nos ajude a cumprir esta importante missão que o Senhor nos confia e é absolutamente necessária para a vida da Igreja e para a autêntica humanização do mundo.
Irmãos e irmãs, que esta quaresma seja para todos nós oportunidade bem aproveitada para redescobrir o verdadeiro sentido da oração nas nossas vidas pessoais, na vida das nossas famílias e na vida das nossas comunidades da Fé e, assim, também a sociedade em geral possa sair beneficiada.



Guarda, 21 de Fevereiro de 2010,
Manuel R. Felício, Bispo da Guarda

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Mensagem de D. Manuel Felício, Bispo da Guarda, para a Quaresma 2010

QUARESMA 2010

Para viver a justiça na caridade

Vamos viver a Quaresma do ano 2010 integrada no Ano Sacerdotal.
A mensagem do Santo Padre Bento XVI para esta Quaresma convida-nos a abrir o nosso coração à Justiça de Deus revelada e oferecida na Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Na prática corrente das leis e dos tribunais, a justiça concentra-se no esforço por dar a cada um o que lhe pertence, mas quase sempre se fica no domínio do que é material. Não podemos, porém esquecer que a realização dos seres humanos não depende apenas dos bens materiais. Pelo contrário, cada homem e cada mulher, como diz o Santo Padre na sua mensagem, “para gozar de uma existência em plenitude precisa de algo mais íntimo que lhe pode ser concedido só gratuitamente”. E esse algo mais é o amor que só Deus lhe pode comunicar e do qual, portanto, cada ser humano sempre depende. De facto, todos fazemos a experiência diária de nos sentirmos dependentes dos outros e, se prestarmos a devida atenção, sentiremos que essa dependência não é só dos outros, mas principalmente de Deus. Simultaneamente, fazemos uma outra experiência de sinal contrário que é o desejo desmedido de independência, de ter uma afirmação pessoal que nos ponha acima dos outros e, muitas vezes, contra eles, numa atitude de egoísmo, consequência do que costumamos chamar pecado original.

Este conflito existe, de facto, em cada um de nós e só será superado na medida da nossa coragem para escolher entre duas lógicas, que se confrontam. Uma delas é a da suspeita e da competição, a lógica do ter cada vez mais e do fazer sozinho ou exclusivamente para si próprio. A outra é a lógica do dom, da espera confiante no outro que há-de vir ao nosso encontro com o presente do amor.

Nós queremos escolher a lógica do dom e a partir dela organizar a nossa vida pessoal e comunitária. Nela se cumpre a justiça divina revelada e comunicada na pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo. É só na base da lógica do dom que nós podemos compreender e valorizar, neste Ano sacerdotal, o Ministério dos nossos padres oferecido à Igreja e, por ela, ao próprio mundo.

Também desejamos que esta Quaresma sirva para todos nos convertermos mais à mesma lógica do dom, numa intensa procura do verdadeiro rosto de Cristo; uma procura que queremos fazer principalmente através dos caminhos da oração pessoal e comunitária, litúrgica e mesmo não litúrgica, de acordo com as propostas que nos faz o Catecismo da Igreja Católica. Convidamos, por isso, cada Pároco e seu corpo de agentes pastorais a aproveitarem o tempo forte desta Quaresma para, através das orientações dadas no Catecismo da Igreja Católica e concretizadas pelo texto elaborado para a formação de adultos na nossa Diocese, progredirem juntos na experiência do encontro vivo e vital com Cristo.

E falando ainda de Justiça, não podemos deixar de reconhecer as dificuldades que a justiça das leis e dos tribunais, entre nós, está a sentir para garantir a legalidade e defender os legítimos direitos de todos. Temos de reconhecer que a justiça dos tribunais só pode cumprir a sua importante função se, antes demais, houver a coragem de promover entre os cidadãos uma verdadeira cultura de justiça, que supõe conjugação de esforços para a autêntica educação cívica e de valores. De outro modo – e os factos estão a confirmá-lo – será difícil garantir eficácia à nossa justiça, sujeita como está a toda a espécie de pressões e cada vez mais embrulhada em jogos de interesses.
A verdadeira justiça, completada pela caridade, leva-nos, de acordo com o espírito da Quaresma, a percorrer os caminhos da solidariedade e de partilha fraterna, mesmo que isso signifique renúncia a bens materiais; supérfluos ou mesmo não supérfluos.

Este ano vamos orientar o resultado da nossa renúncia quaresmal para ajuda material solidária a um projecto chamado “Fazenda da Esperança” que está a ser desenvolvido na nossa Diocese, na Paróquia de Maçal do Chão, arciprestado de Celorico da Beira. É um serviço já muito experimentado no Brasil, onde mereceu uma Visita do actual Papa Bento XVI e que se destina ao acolhimento e recuperação de pessoas atingidas por várias espécies de falta de esperança, incluindo situações de marginalidade.

Está em causa ajudar os mais pobres dos pobres também neste ano europeu de luta contra a pobreza e exclusão social.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Falecimento

Faleceu o Pai do Padre Luciano. O Funeral será amanhã (9 de Fevereiro) pelas 15h30 nas Corgas (Sandomil)

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Dar as mãos pelo Haiti


No próximo dia 7 de Fevereiro, pelas 15h00 irá decorrer em Sandomil/Seia, a actividade de "Dar as mãos pelo Haiti" e tem como objectivo sensibilizar as pessoas para um gesto de partilha.

Esta actividade terá o seguinte Programa:
15h00 - Concentração, registo e partilha
15h30 - Corrente humana


Será um grande momento de partilha e oração. Vem junta-te a nós e traz um amigo.