segunda-feira, 30 de março de 2009

Canonização do Beato Nuno de Santa Maria

Realiza-se no próximo dia 26 de Abril, em Roma, na Praça de São Pedro, a canonização do nosso Beato Nuno de Santa Maria. O Santo Padre Bento XVI vai declarar solenemente a santidade deste ilustre português e propor a toda a Igreja o seu exemplo heróico.
Temos todos os motivos para nos alegrar, sobretudo porque vai ser oferecido à Igreja Universal, a todos os portugueses e ao mundo o exemplo heróico de um homem que, em tempos de crise, colocou o bem da Pátria, o bem dos outros, a começar pelos pobres, acima de todos os seus interesses pessoais e descobriu que o caminho da oração é aquele que mais pode dignificar qualquer ser humano.
Em nome da nossa Diocese, vou estar presente e, apesar do tempo limitado que nos separa do acontecimento, quem se quiser associar, com a sua presença física pode procurar na Casa Véritas ( Jornal “A Guarda”) possibilidades de viagem e alojamento que existem.

Guarda, 30 de Março de 2009
+Manuel Rocha Felício, Bispo da Guarda

V Catequese Quaresmal de D. Manuel Felício

"Pelo sofrimento e pela morte à Ressurreição e à Vida”

1.Celebramos o V Domingo da quaresma e também iniciamos a primeira das duas semanas que especialmente nos convidam a contemplar o mistério da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso, este domingo tradicionalmente é chamado o lº domingo da paixão. A Paixão, a morte e a Ressurreição de Cristo são o mistério que vai estar especialmente presente na celebração do próximo Tríduo Pascal; mas, a partir de hoje, nós somos, com particular insistência, interpelados pela Palavra de Deus a dispormo-nos pessoal e comunitariamente para mergulhar no coração deste mesmo mistério e, nele e por ele, nos deixamos transformar para virmos a ser criaturas novas em Cristo Ressuscitado.
2. A primeira leitura, como aconteceu já em cada um dos 4 domingos anteriores, continua a falar-nos da Aliança com Deus; só que, desta vez, fala-nos de uma Nova Aliança. Essa nova aliança não está ligada a actos de culto especiais, nem aos símbolos normais das alianças entre povos e grupos humanos. Essa Nova Aliança é união com Deus coração a coração. Sabemos que essa Nova Aliança foi inaugurada na Pessoa de Jesus Cristo. Como diz hoje a carta aos Hebreus, Jesus Cristo, apesar de ser Filho, e o Filho único de Deus, Viveu a obediência ao Pai através do sofrimento e por este caminho tornou-se para todos os que lhe obedecem causa de Salvação eterna. Temos aqui um convite explícito a meditar, ao longo dos dias que imediatamente nos preparam para a Páscoa, a morte Redentora de Nosso Senhor Jesus Cristo. E a primeira pergunta que a nossa sensibilidade nos faz é a seguinte: será que do sofrimento e da morte poderá vir alguma coisa boa? Por outras palavras, o sofrimento e a morte, a que todos inexoravelmente estamos sujeitos, poderão ter algum sentido positivo? O Evangelho de S. João hoje dá a resposta com uma parábola primeiro e depois com a experiência única de Jesus Cristo. O sofrimento e a morte são como o grão de trigo lançado à terra. Este tem de deixar-se destruir e morrer para dele resultar muito fruto.
A primeira conclusão que o Evangelho tira é sobre o sentido da nossa vida e sobre a verdadeira compreensão do que é viver. Dar a vida, como Jesus Cristo fez, pelo bem dos outros e da comunidade é o único caminho que dignifica qualquer ser humano. E o testemunho do próprio Deus sobre Jesus a caminho da morte na cruz é eloquente. A cruz é para Cristo lugar de glorificação, porque nela Ele oferece a Sua Vida para salvação de toda a Humanidade.
3. O caminho de Redenção que Jesus a todos aponta é aquele em que cada um de nós vive o sofrimento e a morte, que são inevitáveis, envolvidos pela esperança da Ressurreição e da Vida.
Cada um de nós, se souber parar por momentos diante do seu mistério pessoal, sente-se chamado para a vida e não para a morte; pelo menos sente que a vida é o maior bem que lhe podia ser dado e a este bem todos os outros devem ser subordinados. Mas sente também que não é qualquer vida que lhe interessa, mas somente a vida vivida na verdade e na Justiça.
3.1.Viver na verdade, procurar a verdade e recusar a mentira é o desejo natural de qualquer pessoa honesta. E ao sentirmo-nos vocacionados para viver na verdade, sentimos a obrigação de procurar a verdade do mundo e da história, mas sobretudo a verdade do ser humano em si mesmo e, em última instância, a fonte de toda a verdade que é Deus. A verdade do mundo implica o reconhecimento de que a natureza tem uma consistência própria, leis próprias que não dependem de mim. Eu só tenho de respeitar esta verdade do mundo porque o exige o meu bem pessoal, o bem dos meus semelhantes, incluindo os ainda não nascidos e o bem comum. A verdade do seu humano pede que eu reconheça a sua identidade própria de homem e mulher, seres diferentes que se completam principalmente no serviço à vida que lhes está confiado. A verdade é, de facto, o resplendor de Deus no rosto do mundo e em particular do ser humano. Por isso as relações deste com o mundo e com os outros, todas as relações sociais, para serem humanas e humanizantes, precisam de ser vividas na verdade, com exclusão de toda a forma de mentira, a começar por aquelas mentiras que ofendem o ser humano na sua dignidade, como são o falso testemunho, ou a calúnia; mas também o juízo temerário, porque sem suficiente fundamento. O 8º mandamento da Lei de Deus lembra-nos esta obrigação enraizada na própria natureza humana, quando recomenda: “Não levantar falsos testemunhos, não fazer juízos temerários ou de qualquer outra forma faltar à verdade”.
3.2. Por sua vez, só pode viver na verdade quem aceita percorrer os caminhos da justiça. Viver na verdade e viver na justiça são atitudes humanas fundamentais e inseparáveis.
A justiça social foi sempre decisiva para o bem estar dos cidadãos e das populações, mas na hora actual, com a crise económica que o mundo atravessa, a justiça social exige de todos nós e das instituições uma redobrada atenção. Quando falamos de justiça social, queremos dizer que o mundo é uma mesa posta por Deus para servir todos os cidadãos.
Sendo assim, os bens disponíveis no mundo têm um destino universal ou seja são para todos; os seus proprietários não são donos, mas somente administradores temporários; todo aquele que possui bens tem obrigação de partilhar com os pobres; os bens supérfluos são dos pobres.
A justiça social exige de todos e cada um de nós, antes de mais, respeito por todas e cada uma das pessoas. E este respeito pede que não só a cada pessoa seja dada a porção de bens materiais de que ela precisa para viver com dignidade, mas também e sobretudo que cada uma delas participe activamente no processo da produção destes bens e nas decisões sobre a sua distribuição. O processo de produção é o cumprimento do mandato original do criador para que o ser humano dominasse a terra, ou seja, interviesse para colocar os seus recursos capazes de serem devidamente utilizados pelos seres humanos todos. Os meios técnicos hoje existentes, por um lado facilitam este domínio, mas por outro também o dificultam sobretudo na medida em que substituem muitas pessoas e principalmente colocam num número mais reduzido de pessoas o exercício do direito de tomar decisões. A cada um deve ser respeitado o direito de decidir ou participar na decisão sobre aquilo que produz.
Sempre que uma pessoa está à margem do processo da produção ou lhe é negado o direito de decidir sobre o resultado do seu trabalho tem de ser considerado um excluído ou marginal e neste último caso um expoliado ou roubado. Todos sabemos que a exclusão e a marginalidade constituem uma das maiores pragas da nossa sociedade, na hora actual.
O respeito pelas pessoas a quem se destinam todos os bens criados obriga a respeitar também a natureza. Hoje felizmente há uma grande sensibilidade e muito generalizada quanto ao respeito para com a natureza, sentindo que se não preservarmos o universo estamos a hipotecar o futuro da humanidade. O mandato do génesis – “ dominai a terra” – quer dizer esse saber gerir, governar, sem destruir, o que Deus criou para todos os cidadãos, tanto as das gerações actuais como os das gerações futuras. A atitude da ecologia é assim uma responsabilidade acrescida para as gerações actuais e sobretudo para as suas instâncias de decisão. Tanto o 7º mandamento da Lei de Deus, que manda não roubar como o 10º, que manda não cobiçar as coisas alheias são um convite a pôr em prática a justiça social. Por sua vez a justiça social obriga-nos a todos a levar a sérios a dignidade de cada pessoa e seus direitos. Lembra-nos o destino universal dos bens e a obrigação da solidariedade universal que lhe está ligada. Lembra-nos o primado do bem comum sobre os interesses particulares de pessoas e grupos e sobretudo obriga a fazer a opção preferencial pelos pobres. Pobres são as pessoas excluídas do acesso aos bens essenciais, mas são também os grupos de pessoas e as regiões desfavorecidas. Aos cidadãos em geral, individualmente e em grupos, e principalmente aos poderes constituídos pede-se-lhes esforço conjugado de luta contra a pobreza. Aos cidadãos e às associações de cidadãos pede-se-lhes que participem activamente, na medida em que isso lhes for possível, nãos só nos processos da produção, mas também nas decisões quanto ao destino a dar aos bens produzidos. Aos poderes constituídos pede-se que exerçam a justiça social não só intervindo na equitativa distribuição dos bens, mas principalmente criando condições para que deixe de haver cidadãos de primeira e cidadãos de 2ª, para que não haja grupos humanos excluídos nem regiões que, por falta de condições objectivas, são sempre os parentes pobres, com níveis de pobreza acima de média.
É sabido que o desemprego está a ser a grande chaga social resultante de crise económica que vivemos. Em nossa região os níveis do desemprego estão pelo menos 2 a 3 pontos percentauis acima da média nacional. Por isso, em nome da Justiça Social, sentimo-nos na obrigação de fazer apelo aos poderes constituídos para que olhem para a nossa região, de facto desfavorecida e ajudem a criar as condições necessárias para que o desemprego e a fome sejam eficazmente combatidos, mesmo que isso signifique adiar outros grandes projectos de investimento. Primeiro é preciso dar de comer a quem tem fome e só depois pensar naquilo que se pode dispensar ou, pelo menos, adiar.
Que o Senhor nos ajude a preparar a Páscoa da Ressurreição e acrescer na consciência de que a Vida de todos e de cada um é o maior bem que é preciso defender e valorizar em todas as circunstâncias.

+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda

domingo, 29 de março de 2009

Dia Diocesano da Juventude


Os jovens da diocese da Guarda vão ser guiados pelos «Caminhos de S. Paulo». O dia Diocesano da Juventude, assinalado a 4 de Abril, decorre este ano na Vila de Belmonte. O dia vai contar com “um elevado número de actividades lúdicas, artísticas, musicais e recreativas”.

Enquadrado no ano Paulino, “os jovens terão oportunidade de participar em diversas actividades relacionadas com a vida de S. Paulo”, à medida que se vão deslocando pela Vila de Belmonte, guiados por um mapa. Teatro com fantoches, pinturas, ateliers de expressão escrita, expressão musical, expressão dramática e expressão dos sentidos, espaço de oração S. Paulo e um concerto final com os Luce e os Terceira Margem são algumas das actividades propostas num encontro que em anos anteriores chegou a congregar 1000 jovens.
A organização está a cargo do Departamento Diocesano da pastoral juvenil em parceria com a Câmara Municipal de Belmonte e o apoio do Instituto Português da Juventude. .

Programa
09.00h: acolhimento
10.00h: Eucaristia, presidida, na Igreja Matriz, por D. Manuel Felício, Bispo da Guarda.
11.00h: “Caminhos de S. Paulo”
16.00h: Concerto com Luce e Terceira Margem .


in Ecclesia

terça-feira, 24 de março de 2009

Visita de D. Manuel Felício à Paróquia de São José


Programa

Quarta-feira, 25 de Março

14.30 - Acolhimento Sr. D. Manuel, no largo da Igreja
14.30 - Oração
15.30 - Visita a Escola e Jardim de Infância dos Penedos Altos
15.20 - Visita ao CDC (Clube Desportivo da Covilhã)
15.30 - Visita às Piscinas Municipais
15.50 - Visita à Associação Cultural da Beira Interior (Zérhoven)
16.20 - Visita à Liga dos Amigos dos Penedos Altos
16.40 - Visita ao Clube Académico dos Penedos Altos
17.00 - Visita à Igreja de São Vicente de Paulo e oração
17.40 - Visita ao Centro Cultural e Despedida do Bairro de São Vicente de Paulo
17.50 - Visita ao Grupo Desportivo e Recreativo Unidos do Lameirão
18.00 - Visita à Covimédica
18.15 - Encontro com os movimentos da Paróquia
18.40 - Atendimento e Confissões
19.15 - Missa Solene presidida pelo Sr. Bispo
20.00 - Encontro com os colaboradores e movimentos da Paróquia

IVª Catequese Quaresmal de D. Manuel


IV Domingo da Quaresma
“Deus é fonte e dador da vida em Seu Filho Jesus Cristo”


1. Estamos a viver o quarto domingo da Quaresma. Um domingo marcado pela nota da alegria, devido à proximidade das Festas pascais. Por isso é chamado domingo “laetare” e a liturgia permite aliviar hoje a austeridade quaresmal, com o uso de paramentos cor de rosa, em vez da cor roxa comum a toda a Quaresma.
Durante os 3 domingos centrais da quaresma (II, IV e V) e através do Evangelho de S. João, somos introduzidos no mistério da Paixão e morte redentoras de Cristo. No domingo passado, foi o relato de S. João sobre a intervenção de Jesus para purificar o Templo, que deixou os ânimos exaltados contra Ele; hoje, é a passagem de Nicodemos que refere o juízo de Jesus levantado sobre a cruz diante do mundo sem Fé; domingo que vem, será o relato do grão de trigo lançado à terra que só desaparecendo pode dar origem a fruto abun­dante.

2. A Palavra de Deus hoje, como aconteceu nos 3 domingos anteriores continua a falar-nos da Aliança de Deus com o Seu Povo. E desta vez, no Livro das Crónicas, fala-nos da fidelidade de Deus que se mantém até ao fim apesar da infidelidade do Seu Povo Eleito.
De facto, as infidelidades e contínuas transgressões do Povo e seus chefes perante a Lei de Deus geraram muitas contrariedades, a principal das quais foi a destruição do Povo de Israel e o Exílio da Babilónia. Mas Deus respon­deu com o Seu gesto de Misericórdia, inspirando o General Persa Ciro para permitisse o regresso do Povo ao seu País e o ajudasse na reconstrução do Templo.
O Evangelho apresenta-nos hoje uma passagem do diálogo de Nicodemos com Jesus, de noite. E nesse diálogo sublinha-se a força salvadora da cruz de Cristo. De facto Deus enviou ao mundo o Seu Filho Único não para condenar o mundo mas para o salvar. Na morte redentora de Jesus Cristo brilha, com esplendor único, a Misericórdia infinita de Deus que perdoa sempre. A Cruz de Cristo é, de facto, a fonte de onde jorra a vida abundante que o mesmo Deus oferece a todos. Como comenta hoje S. Paulo na Carta aos Efésios, Deus é rico em misericórdia pelo grande amor com que nos amou. E o amor de Deus para connosco revelou-se assim, continua S. Paulo: estando nós mortos por causa dos nossos pecados, Ele restituiu-nos à vida com Cristo.

3. A vida é, de facto o maior dom que recebemos de Deus, a começar pela vida física, mas continuando na vida das boas relações em comunidade, na vida espiritual e na vida sobrenatural que nos abre para as relações com o mesmo Deus em Cristo e na força do Espírito Santo.
Sendo dom de Deus, a vida é acolhida no seio de uma família constituída essencialmente por marido e esposa, pai, mãe e filhos.
A Família é, assim o santuário do amor e da vida querido por Deus para serviço de toda a sociedade.

3.1. No seu projecto criador Deus pensou o homem e a mulher como seres diferentes e complementares e vocacionados para, nesta sua complemen­tari­dade, serem imagem e experiência da comunhão trinitária e fonte de novas vidas. Pelo exercício da sexualidade humana em casal cumprem o desígnio de Deus, realizam-se como pessoas diferentes e complementares e prestam à sociedade o serviço da fecundidade. A experiência do dom total de si mesmos um ao outro levam homem e mulher, no quadro da instituição familiar, a experimentar a beleza do amor entendido como projecto de vida a dois, aberto ao advento de novas vidas humanas.
O dom dos filhos é sempre a grande bênção na vida de um casal. Por sua vez, pela fidelidade mútua e pela estabilidade das suas relações, marido e esposa são chamados a oferecer aos filhos as condições objectivas de que eles precisam para crescerem de forma equilibrada e na compreensão progressiva, teórica e prática, dos grandes valores. A família começa por ser, assim, em primeiro lugar um projecto de vida a dois que depois se alarga aos filhos, necessitados de condições para eles próprios decidirem a sua vida.
A sexualidade humana é, assim, vivida por marido e esposa, no quadro do seu compromisso de fidelidade como dom de si mesmos para construção da comunhão em família e geração de novas vidas. Por sua vez só na escola da Família é que as crianças, os adolescentes e os jovens podem descobrir a importância da sexualidade no processo de construção das suas personalidades e também na elaboração do seu projecto pessoal de vida. A educação sexual é factor importante e decisivo para o crescimento equilibrado das novas gerações e, por isso, nela tem de estar empenhada a família desde o princípio.
O valor da virtude da castidade nas palavras e nas obras, como lembra o 6º mandamento e nos pensamentos e nos desejos, como recomenda o 9º mandamento, quando não é descoberto e motivado no seio da própria família tem muita dificuldade em ser apreendido.
Precisamos de dizer com coragem a muitas mentalidades modernas que o instinto e a sensibilidade não podem ser o único critério regulador da sexualidade humana. Se assim fosse, ela deixaria de ser humana. Pelo contrário, humanizar a sexualidade é torná-la também espaço de decisão e colocá-la sempre ao serviço da pessoa e das suas relações mais autênticas.
Por isso, não pode escandalizar ninguém o apelo à abstenção das relações sexuais em situações determinadas, como é o caso das doenças sexualmente transmissíveis. É nesse sentido que também os nossos políticos têm de entender o apelo do Papa feito esta semana às populações do continente africano, com a lembrança de que o uso do preservativo, mesmo que pareça o contrário, não é remédio para esta doença, que, de facto, continua a dizimar populações em muitos países de África. Alguns dos nossos políticos, que tiveram reacções primárias diante deste apelo do Papa, não assumiram, de facto, a sua responsabilidade social e o dever que lhes assiste de apontarem critérios dignificantes e humanizantes.
3.2. Como Santuário do amor e da vida, a Família precisa de saber transmitir sempre e a todos os seus membros o sentido do respeito pela vida, esse valor essencial a que todos os outros valores têm de estar sempre subordinados. O cumprimento do 5º mandamento – não matarás – exige uma educação de fundo para o valor da vida humana. Dela nós nunca somos donos ou proprietários, mas somente administradores, como lembra o catecismo da Igreja Católica (n. 2280).
Por isso, a vida humana é um valor absoluto a defender, sempre e em todas as circunstâncias. E este respeito pela vida humana começa no momento da concepção e vai até à sua morte natural. Por isso, ao Estado deve ser negado o direito de poder legitimar o aborto ou antecipar o fim da existência terrena de qualquer ser humano, como pretendem os defensores e promotores de leis legitimadoras da eutanásia. Dispor da vida humana própria ou alheia é um direito que só a Deus pertence.
Atentados contra a vida são o homicídio directo e voluntário, incluindo o aborto e a eutanásia; é o suicídio, e daí a contradição do chamado suicídio assistido; mas são também outras práticas que levam consigo alguma agressão à pessoa humana como tal no exercício das suas faculdades ou diminuição das suas capacidades. É o caso do uso de drogas, incluindo o alcoolismo.
3.3. A família é escola do respeito que deve haver entre pais e filhos, como também do respeito que, à partida nos têm de merecer quantos estão no legítimo exercício da autoridade. Por isso manda o 4º mandamento honrar pai e mãe e os outros legítimo superiores. Daqui concluímos que há deveres dos filhos para com os pais, deveres dos pais para com os filhos e também deveres para com as autoridades legitimamente constituídas.
Para com os pais os filhos têm o dever de obediência, quando se trata de seguir as orientações dadas sobre os grandes valores da vida, quando se trata de cooperar na busca e na prática da verdade; e também de os assistir, não só quando há necessidades materiais mas, em todas as circunstâncias, para que eles possam viver cada etapa da vida com o máximo empenho e entusiasmo.
O primeiro e principal dever dos pais para com os filhos é o da educação. Ao dom da vida segue-se natural e necessariamente o da educação. Por isso a família é a fonte, a matriz de toda a educação, como lembra o Vaticano II, na constituição sobre a Igreja no mundo contemporâneo (n. 61). E, por sua vez, lembra-nos o Catecismo da Igreja Católica que os “pais são os primeiros responsáveis pela educação dos seus filhos na Fé, na oração e em todas as virtudes. Eles têm o dever de prover, na medida do possível às necessidades físicas dos seus filhos”. (n. 2252).
Daqui concluímos que as escolas, tanto públicas como privadas, nunca podem substituir o papel insubstituível das famílias. Devem sim ajudá-las no cumprimento desta sua responsabilidade fundamental.
3.4. O quarto mandamento manda também, como já dissemos, honrar as autoridades legitimamente constituídas na sociedade.
De facto a comunidade dos políticos tem um importante papel a desempenhar na promoção do bem comum e dos indivíduos.
As pessoas e as famílias necessitam de leis, tribunais e governantes que velem pela ordem pública, apliquem políticas educativas e outras que sejam correctas, nomeadamente no domínio da saúde e da promoção da cultura e também se esforcem por criar as infraestruturas necessárias ao exercício da vida pessoal e social, sempre com equilíbrio e a equidade, nomeadamente quando se trata de distribuir estes bens pelo conjunto da população sem que ninguém deles fique excluído. Os que exercem funções de autoridade devem exercê-las para serviço do bem comum e de todos e nunca para servir os seus interesses pessoais ou de partido. Aos cidadãos em geral compete-lhes o dever de colaborar com os poderes públicos na edificação da sociedade, em espírito de verdade, de justiça, solidariedade e equidade” (n. 2255).
Estas são as razões do respeito e da cooperação que a todos nos merecem as autoridades legitimamente constituídas.

Todos desejamos que esta quaresma nos ajude a colaborar, como cristãos e cidadãos, na promoção dos autênticos valores da vida, incluindo com a ajuda que queremos dar aos poderes públicos na definição das melhores políticas e na sua implantação para bem da comunidade humana em geral e do nosso país em especial.

Paróquia de Boidobra (Covilhã), 22/3/2009
+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda

sábado, 21 de março de 2009

Faleceu o Padre Acácio Marques dos Santos


Faleceu nesta noite o Pe. Acácio Marques dos Santos.


O Padre Acácio Santos, nasceu trinta de Março de 1992 e foi ordenado sacerdote no dia catorze de Janeiro de 1945.


Execeu diversas funções como sacerdote na Diocese da Guarda.



Irá ser sepultado amanhã pelas 17:00 em Queluz(onde residia actualmente).




Cardeal José Saraiva Martins na Guarda


"Quando a Igreja Sorri” é o titulo da Biografia do Cardeal José Saraiva Martins, escrita pelo jornalista italiano, Andrea Tornielli. O livro será apresentado na Guarda, no dia 27 de Março, pelas 18.00 horas, na Biblioteca Eduardo Lourenço, pelo Monsenhor Vitor Feytor Pinto e contará com a presença do Cardeal Saraiva Martins. Ao longo de 264 páginas, o autor dá a conhecer de perto o homem que representou Portugal, durante mais de meio século, junto ao Vaticano tendo convivido de perto quer com o Papa, João Paulo II, quer com o pontífice Bento XVI.


Teólogo e professor, José Saraiva Martins é um dos mais influentes cardeais portugueses. Vivendo em Roma desde os anos 50, ali completou os seus estudos e se tornou um dos mais próximos religiosos do falecido Papa João Paulo II. Perfeito da Congregação para as Causas dos Santos, a sua intervenção foi considerada fundamental para a canonização dos pastorinhos de Fátima.


A vida, obra e percurso do cardeal. Natural de Gagos de Jarmelo, na Guarda, onde nasceu no ano de 1932, o jovem José Saraiva Martins começou por frequentar o Seminário das Termas de São Vicente, partindo, em 1954, para Roma. É ordenado sacerdote três anos depois, chegando a reitor da Pontifícia Universidade Urbaniana. Doutorado pela Universidade de S. Tomás de Aquino, é nomeado, em 1988, Perfeito da Congregação para as Causas dos Santos. Revisitando o percurso religioso e pessoal do cardeal português, o jornalista italiano Andrea Tornielli escreve a sua biografia. Uma oportunidade para conhecer de perto o homem que representou Portugal, durante mais de meio século, junto ao Vaticano tendo convivido de perto quer com o antigo Papa, João Paulo II, quer com o actual pontífice Bento XVI. Em 24 de Fevereiro de 2009 D. José Saraiva Martins foi nomeado Cardeal-Bispo da Igreja Católica pelo Papa Bento XVI com o título de Cardeal-Bispo de Palestrina.

quinta-feira, 19 de março de 2009


Ser Pai…
Ser pai é acima de tudo,não esperar recompensas.Mas ficar feliz caso e quando cheguem.
É sobretudo saber fazer o necessário por cima e por dentro da incompreensão.É aprender a tolerância com os demais e exercitar a dura intolerância (mas compreensão) com os próprios erros.
Ser pai é aprender, a hora de falar e de calar. É contentar-se em ser reserva, coadjuvante, deixado para depois.
É ter a coragem de ir adiante,tanto para a vida quanto para a morte. É viver as fraquezas que depois corrigirá no filho,fazendo-se forte em nome dele e de tudo o que terá de viver para compreender e enfrentar.
Ser pai é aprender a ser contestado mesmo no auge da lucidez.É esperar. É saber que experiência só adianta para quem a tem, e só se tem vivendo.
Portanto, é agüentar a dor de ver os filhos passarem pelos sofrimentos necessários, buscando protegê-los sem que percebam, para que consigam descobrir os próprios caminhos.
Ser pai é saber e calar. Fazer e guardar. Dizer e não insistir. Falar e dizer. Dosar e controlar-se.
Dirigir sem demonstrar. É ver dor, sofrimento, vício e queda, jamais transferindo aos filhos o que, a alma, lhe corrói.
Ser pai é ser bom sem ser fraco.É jamais transferir aos filhos a quota de sua imperfeição, o seu lado fraco, desvalido e órfão.
Ser pai é aprender a ser ultrapassado, mesmo lutando para se renovar. É compreender sem demonstrar, e esperar o tempo de colher, ainda que não seja em vida.
Ser pai é aprender a sufocar a necessidade de afago e compreensão. Mas ir às lágrimas quando chegam.
Ser pai é saber ir-se apagando à medida em que mais nítido se faz na personalidade do filho, sempre como influência, jamais como imposição. É saber ser herói na infância, exemplo na juventude e amizade na idade adulta do filho.É saber brincar e zangar-se.
É formar sem modelar, ajudar sem cobrar, ensinar sem o demonstrar, sofrer sem contagiar, amar sem receber.
Ser pai é saber receber incompreensão, antagonismo, inveja, projeção de sentimentos negativos, ódios passageiros, revolta, desilusão e a tudo responder com capacidade de prosseguir sem ofender; de insistir sem mediação, certeza, porto, balanço, ponte, mão que abre a gaiola, amor que não prende, fundamento, enigma, pacificação.
Ser pai é atingir o máximo de angústia no máximo de silêncio.
O máximo de convivência no máximo de solidão.
É, enfim, colher a vitória exatamente quando percebe que o filho a quem ajudou a crescer já, dele, não necessita para viver.
É quem se anula na obra que realizou e sorri, sereno, por tudo haver feito para deixar de ser importante




terça-feira, 17 de março de 2009


Programa para o Dia do Pai em São José

Dia 18 de Março (Quarta-feira):
Missa de Vésperas - 19:15 horas
Sagrado Lausprene até às 23:00 horas

Dia 19 de Março (Quinta-feira):
Abertura do Sagrado Lausprene às 09:00 horas
Confissões às 15:00 horas
Adoração das crianças da catequese às 18:15 horas
Missa do Dia do Pai às 19:15 horas


segunda-feira, 16 de março de 2009

IIIª Catequese Quaresmal de D. Manuel


III Domingo da Quaresma
“ A relação com Deus é estruturante da vida pessoal e comunitária”

1.Celebramos o III Domingo da Quaresma. Com ele entramos no núcleo central deste tempo forte de preparação para a Páscoa e de revisão da vida cristã de todos os baptizados. De facto, o 3º, o 4º e o 5º domingos da Quaresma constituem uma unidade e pretendem que a Igreja e todos os seus fiéis se interroguem, com a máxima seriedade, sobre as formas como deve ser vivida a Fé em Jesus Cristo, sua celebração e consequências quer na vida social quer quanto à esperança na Vida eterna. Hoje celebramos também o dia Nacional da Caritas, a lembrar a passagem de S. Paulo aos Coríntios: “Se não tiver caridade nada sou”.

2. A Palavra de Deus hoje proclamada na Assembleia Eucarística do domingo continua a falar-nos da Aliança. Aliança que Deus estabeleceu com a humanidade no seu conjunto através de Noé; estabeleceu com o Povo eleito, através de Abraão e hoje renova através de Moisés, conforme descrição do Livro do Êxodo. Pela aliança, Deus escolhe o Povo de Israel e faz dele o Seu Povo eleito; este compromete-se a cumprir os 10 mandamentos, cuja lista o Livro de Êxodo hoje nos apresenta. A Lei da Nova Aliança, interpretada por Jesus Cristo, resume os 10 mandamentos em 2 apenas – amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. O Evangelho de hoje, ao apresentar-nos o episódio da purificação do Templo, remete a nossa atenção para o verdadeiro culto devido a Deus e para o verdadeiro templo onde esse culto lhe é prestado. Para a nova aliança todo o verdadeiro culto se resume no único sacrifício de Cristo. Por isso, como lembra hoje a I Carta aos Coríntios, o Coração da mensagem cristã, segundo S. Paulo, é Cristo crucificado, escândalo para os Judeus e loucura para os Gentios. E o verdadeiro Templo onde se pratica esse verdadeiro culto passou a ser a pessoa de Cristo Ressuscitado.

3. A Palavra de Deus hoje convida-nos a recordar os 10 mandamentos, através da passagem do Livro do Êxodo. E nós vamos considerar especialmente os 3 primeiros mandamentos voltados para a recomendação de amar a deus sobre todas as coisas. De facto, o primeiro manda-nos amar a Deus sobre todas as coisas; o segundo manda-nos não invocar o Santo nome de Deus em vão e o 3º manda-nos santificar o dia do Senhor.
3.1. Estes 3 mandamentos, que constituem o primeiro dos 2 em que se resume o decálogo, colocam a relação com Deus no centro da nossa vida pessoal e comunitária e lembram não só às pessoas mas à própria sociedade que Deus e a relação com ele são muito importantes na organização da vida tanto dos indivíduos, como das comunidades.
Deus é o Criador e o Senhor da história que oferece a todos a mesa da criação e todos os bens de que precisamos para viver a vida com verdadeiro entusiasmo e sentido.
Em troca de toda a generosidade que nos dedica, desde a criação à história das suas relações connosco através do Povo eleito e da Igreja e sobretudo através da Pessoa de Cristo, Deus pede-nos apenas a retribuição do Seu amor. Amor esse que desabrocha no verdadeiro culto celebrado no novo Templo que é Cristo ressuscitado e a Sua Igreja.
3.2.Deus vem ao nosso encontro para fazer de nós a Sua Família. E nós aceitamos essa vinda de Deus ao nosso encontro através da Fé, virtude sobrenatural também ela um dom de Deus. Sendo dom de Deus, a Fé não dispensa o nosso esforço para a alimentar sobretudo com a leitura assídua da Palavra de Deus, que hoje é actualizada na Palavra da Igreja especialmente resumida no Catecismo. E esforço também para a defender, sobretudo aprofundando as razões de esperança que nos vêm de Deus e de Nosso Senhor Jesus Cristo no diálogo e mesmo no confronto com as muitas visões do mundo e da vida hoje existentes, muitas delas em clara oposição aos valores profundamente humanos da nossa Fé.
A Esperança no sentido positivo da história presente e sobretudo na Vida Eterna é outro dos grandes bens que Deus coloca na nossa vida pessoal. É um bem que nos defende do desespero e nos empenha cada vez mais em fazer tudo o que está ao nosso alcance para orientar a história do mundo confiada à nossa responsabilidade. Por sua vez, a caridade cristã, para além de ser resposta ao amor infinito que Deus nos dedica desde toda a eternidade, há-de fazer resplandecer o amor divino nas nossas relações sociais. Quando, de alguma forma, fazemos oposição à presença e ao amor de Deus no meio do mundo e da história, para além de cometermos uma ingratidão inqualificável, colaboramos no maior dos prejuízos de que a humanidade pode ser vítima.
3.3.Vivemos hoje um modelo de organização social onde a laicidade é regra comummente aceite. Mas laicidade não pode significar a expulsão de Deus nem da vida pessoal nem da vida social. Deve representar apenas um distanciamento dos poderes públicos relativamente às formas de organizar a vivência da Fé. De facto, esta é responsabilidade dos cidadãos e de organizações específicas. Mas aos poderes públicos compete criar todas as condições necessárias ao exercício do direito e dever que os cidadãos têm de promover, viver e celebrar a Fé. É assim que deve ser entendido o correcto exercício da Liberdade religiosa, tanto por parte dos cidadãos como dos poderes públicos. A autêntica liberdade religiosa nunca pode ser entendida como silêncio sobre o facto religioso, muito menos como indiferença, oposição ou simples tentativa de a fazer recuar para a esfera privada do indivíduo.
A Liberdade religiosa só ficará devidamente assumida e cumprida quando saudavelmente se criarem todas as condições objectivas para que os indivíduos e as comunidades vivam efectivamente o dever de acolherem Deus nas suas vidas, de lhe prestarem o culto devido e assim contribuírem para o maior bem da Sociedade.
E as autoridades públicas não podem argumentar com o pluralismo religioso para fugirem a esta sua responsabilidade. Pois, também o diálogo e a cooperação entre as várias religiões devem ser promovidas, sem prejuízo de criar as condições necessárias para que cada uma delas viva a sua identidade e realize a missão específica que lhe compete.
De facto, o vazio de simbologia religiosa no espaço público e todas as tentativas de expulsar Deus da vida social em nada ajudam a autêntica humanização da sociedade.
3.4. Manda-nos o 2º mandamento não invocar o santo nome de Deus em vão. Ao longo da história, sempre que as pessoas quiseram expressar um especial empenho das suas vidas em favor das grandes causas, faziam-no e fazem-no, invocando o nome de Deus como garantia da fidelidade aos seus compromissos. É por isso que ainda recentemente, na sua tomada de posse, o Presidente americano fez juramento de fidelidade sobre a Bíblia. A ninguém é legítimo quebrar o juramento de fidelidade ou, pior ainda, instrumentalizar a força sagrada que vem da invocação do nome de Deus para fins contrários ao bem. O que significa que a relação com Deus é factor importante de responsabilização das pessoas perante a vida social.
3.5. Manda-nos o 3º mandamento santificar o Dia do Senhor, que para a tradição do Antigo Testamento era o Sábado e para os cristãos é o Domingo.
O domingo, termo que em si mesmo quer dizer dia do Senhor, de facto adquiriu importante centralidade na vida cristã pessoal e comunitária. Santificar o Domingo, primeiro dia da Semana, é para nós em primeiro lugar, participar na assembleia da comunidade e Eucaristia dominical; mas é também dedicar mais tempo à escuta meditada da Palavra de Deus, à acção apostólica e à prática da caridade. Para além disso, o domingo tem uma componente social da maior importância, enquanto dia de descanso semanal. Na nossa tradição ocidental, desde os tempos do Imperador Constantino, que assim acontece.
E, na realidade, esta componente humana e social do domingo é importante para a vida das pessoas em geral, que assim têm possibilidade de dar à Família o tempo e as atenções que lhe não podem dar durante os dias de semana; ou simplesmente organizar para seu bem pessoal e dos outros os tempos livres que ele representa. O domingo é, assim, uma instituição de raízes cristãs que passou a marcar o ritmo semanal da vida da sociedade e como tal há-de ser defendido pelas próprias leis civis como um valor de maior importância para a qualidade de vida das pessoas.
Que o Senhor nos ajude a aproveitar bem esta Quaresma para fazer dos mandamentos da Lei de Deus a luz orientadora de toda a nossa vida e da vida da própria sociedade.

Catedral da Guarda, 15 de Março de 2009
Manuel R. Felício. Bispo da Guarda

segunda-feira, 9 de março de 2009

Semana e Dia da Caritas

Estamos a viver a Semana da Caritas, que culmina no próximo Domingo com o Dia Nacional da Caritas. Neste Ano Paulino inspira-nos a afirmação do Apóstolo, na I Carta aos Coríntios: “Se não tiver caridade nada sou”.
De facto a caridade tem de ser o rosto visível de todas e cada uma das nossas comunidades cristãs e a instituição Caritas é o instrumento ao seu dispor para o cumprimento organizado desta responsabilidade.
Como nos lembra a nota publicada pela Comissão Episcopal da Pastoral Social, “as cirunstâncias evidenciam as vantagens de uma implantação paroquial”. De facto cada vez é mais evidente a necessidade de grupos de acção social paroquiais ou inter-paroquiais, que estejam próximos das realidades. O que se pretende é conhecer bem as pessoas envolvidas em situações de pobreza para dar a resposta adaptada a cada caso. A actual crise que a todos nos está a afectar gera, de facto, situações novas de pobreza, que precisamos de conhecer bem para lhes dar a resposta conveniente.
Decidimos que a nossa renúncia quaresmal, este ano, será canalizada em parte para responder a necessidades de famílias em situação de pobreza provocada sobretudo pela onda de desemprego que está a acontecer nos nossos meios. Entregámos à Caritas Diocesana a responsabilidade de dar cumprimento a este nosso desígnio, que só pode sre cumprido havendo uma rede de grupos de acção social com suficiente proximidade das situações. Por isso, expressamos o nosso ardente desejo de que, naqueles arciprestados onde não existem organizados estes grupos de acção social para dar rosto à caridade, passem a existitr pelo menos na sede do arciprestado e com a preocupação de estarem atentos sobretudo às novas necessidades que vão surgindo.

Guarda, 9 de Março de 2009
+Manuel Felício, Bispo da Guarda

II Domingo da Quaresma - Comprometidos com Cristo na transformação

1.Estamos no II Domingo da Quaresma, que nos apresenta o quadro da Transfiguração do Senhor Jesus Cristo, diante dos Apóstolos Pedro, Tiago e João, no Monte Tabor. Ao lado de Cristo estavam Moisés e Elias, representando a Lei e os Profetas do Antigo Testamento. Do meio da nuvem ouve-se a voz misteriosa de Deus Pai, a testemunhar quem é Jesus Cristo – “ Este é o meu Filho muito amado: escutai-O”.
Os três Apóstolos não escondem a tentação que tiveram – permanecerem naquele lugar para sempre e por isso querem fazer 3 tendas; mas Jesus tinha outros planos para eles e mandou-os descer do monte, porque o mundo os esperava. Neste quadro simbólico, Jesus revela a Sua identidade divina e de salvador, pela transfiguração, pela Palavra do Pai e pelo testemunho da própria Lei e dos Profetas do Antigo Testamento. Os 3 apóstolos sentem-se bem naquele quadro de transfiguração, mas, de facto, precisam eles próprios também de muita transformação, pois ainda não compreendem o que é ressuscitar dos mortos. Ao descerem com Jesus do monte, sentem o mundo como o campo da sua própria missão; um mundo a que é preciso levar a transfiguração de Cristo, depois de experimentada nas suas próprias pessoas.
Para dar cumprimento a esta tarefa evangelizadora e transformadora de si próprios e do mundo eles precisam, como nós hoje precisamos, de cultivar a atitude fundamental da fidelidade – fidelidade a Cristo e aos planos de Deus.
A Palavra de Deus apresenta-nos hoje, no Livro do Génesis, o exemplo por excelência dessa fidelidade. Abraão estava disposto a tudo sacrificar para cumprir a vontade de Deus. Por isso, não lhe negou a realidade mais cara da sua vida, que era o próprio Filho, três vezes lembrado, no texto Bíblico, como seu Filho único. De facto, a fidelidade de Abraão e a sua Fé no Deus único é modelo para nós cristãos e discípulos de Cristo que, pelo Baptismo, estamos identificados com Ele e, por consequência, chamados a segui-L0 para o anúncio do Evangelho aos homens e mulheres do mundo de hoje.
Nesta tarefa evangelizadora, difícil mas urgente e que exige o empenho total das nossas vidas, não estamos sós. Acompanha-nos o próprio Jesus Cristo, Filho único de Deus que o próprio Pai entregou à morte por todos nós. Lembra-no-lo hoje a Carta aos Romanos. Esta é a prova máxima do amor de Deus por todos nós e pela própria humanidade. O facto de sentirmos, como a primeira comunidade dos apóstolos e dos discípulos, que Deus está do nosso lado é uma maravilhosa consolação, mas sobretudo uma força extraordinária que nos mobiliza e nos entusiasma a procurar criativamente os caminhos da nova evangelização.
2. Como os 3 Apóstolos que desciam com Jesus do monte da Transfiguração, sentimos que a nossa missão é levar ao mundo a novidade do Evangelho de Jesus. Mas sentimos também como eles que a nossa preparação para esta tarefa ainda não está completa. Eles não sabiam o que era ressuscitar dos mortos e nós precisamos também de continuar a percorrer os caminhos do verdadeiro conhecimento de Cristo e da Sua mensagem que nos chega hoje sobretudo na Bíblia e no Catecismo.
Por agora, vamos fixar a nossa atenção na responsabilidade que nos é pedida, como cristãos e como cidadãos, para intervirmos na transformação de nós próprios e do mundo, de acordo com o Evangelho.

2.1. De facto, nós sentimos que somos, em alguma medida, donos de nós mesmos e do mundo, que nos está entregue para o conhecermos, organizarmos e governarmos, sempre no respeito por regras que não dependem de nós.
Cada um de nós enquanto pessoa e cidadão cumpre esta missão através de decisões livres e responsáveis que dão origem a actos portadores do nosso compromisso voltado para promover o Bem de todos e cada um dos seres humanos e impedir tudo o que é mau.
Esse centro onde cada um de nós toma as suas decisões chama-se consciência e podemos defini-la como sendo o íntimos mais íntimo de cada pessoa, o santuário onde cada um de nó, confrontando-se com os imperativos que lhe vêm de si mesmos, da sociedade, do mundo e, como sua fonte última, do próprio Deus, formula as suas escolhas. Destas decisões da consciência derivam os actos humanos, que são bons ou maus conforme cumprem ou não as leis inscritas no coração do mundo e da sociedade, mas sobretudo no coração de cada ser humano pelo próprio criador.
Estes actos humanos, resultantes de decisões livres, distinguem-se de outros actos do homem e da mulher que não resultam da sua liberdade mas somente cumprem mecanismos biológicos de sustentabilidade do organismo ou são determinados pelos instintos.
A consciência é assim a capacidade própria de cada homem e de cada mulher para formularem o seu juízo de valor e os actos humanos são os canais por onde esse juízo de valor se aplica para transformação da realidade pessoal, social e mundana.
Por sua vez, o juízo da consciência será recto, se ele se ajustar à verdade do ser humano, da sociedade e do próprio mundo e às consequentes exigências de bem nela implicadas; será erróneo ou errado se não se lhe adaptar, com ou sem culpabilidade.
Desse juízo depende também a moralidade dos actos humanos, que, por isso, classificamos de moralmente bons se se ajustarem à verdade e ao Bem; de moralmente maus, quando há desajustamento, seja positivamente desejado seja apenas consentido.
Para cumprir a sua importante missão, a consciência precisa de liberdade e autonomia, o que implica total ausência de coacção exterior na formulação do seus juízos.
Todavia, a mesma consciência precisa também de assumir o dever de estar sempre a ajustar-se à Verdade e ao Bem. Isto chama-se formação da consciência, que é uma obrigação de todas e cada uma das pessoas .
Na formação da consciência tem de obrigatoriamente estar implicado o indivíduo, mas também o devem estar as instituições de que ele legitimamente tem direito a esperar ajuda, como são a família, a escola e outras, incluindo todos os responsáveis pela condução da vida pública.
Pelo que fica dito, concluímos que os actos humanos não são todos iguais, porque uns são bons e outros não; e concluímos também que a sua bondade ou maldade não dependem apenas do sujeito que os pratica, mas sim da Verdade e do Bem que o transcendem e lhe ditam regras, a que ele responsavelmente não pode fugir.
Os actos humanos, bons ou maus, resultam da decisão da consciência como dissemos, a qual é também determinada pela actividade do conjunto das Faculdades do ser humano, a começar pelas chamadas faculdades superiores que são a inteligência, a razão e a vontade. Em todo esse processo intervêm igualmente a sensibilidade humana e as emoções, assim como as características próprias da maneira de ser de cada indivíduo.
À influência da sensibilidade e sobretudo das emoções sobre todo o processo que conduz aos actos humanos costumamos chamar-lhe de paixões. Em si mesmas, as paixões, na medida em que garantem a ligação entre a vida sensível e a vida do espírito são um importante potencial humano, que pode ser aproveitado para promover o bem, através das virtudes; mas também o pode ser quer para o mal, através dos vícios.

2.2 – As Virtudes são hábitos bons e costumamos defini-las como sendo disposições habituais e firmes para fazer o Bem. Os vícios são hábitos maus.
É verdade que o ser humano se determina, nas suas opções, não apenas por actos isolados, mas também por hábitos. Dentro das virtudes ou hábitos bons distinguimos as grandes Virtudes humanas das virtudes sobrenaturais, a que andam ligados os 7 dons do Espírito Santo e os chamados também frutos do Espírito. As grandes Virtudes humanas fazem parte do humanismo que caracteriza a nossa tradição ocidental, desde a cultura grega. Também lhe chamamos virtudes cardeais e são a Prudência, a Justiça, a Fortaleza e a Temperança.
As virtudes sobrenaturais ou teologais são dons de Deus oferecidas a cada um de nós para fortalecer as faculdades humanas e torná-las aptas a produzirem actos que, por natureza, as transcendem. Essas virtudes sobrenaturais também chamadas teologais são a Fé, a Esperança no Reino de Deus e na Vida Eterna e a Caridade, entendida como o próprio Amor Divino traduzido em gestos e atitudes humanas, à maneira de Cristo encarnado.
Juntando a estas virtudes os 7 dons do Espírito Santo e os 12 frutos da Sua acção em nós, fica constituído o ambiente sobrenatural em que se desenvolve toda a nossa actividade humana para darmos cumprimento à responsabilidade que Deus nos confia com a finalidade de conduzirmos o Mundo pelos caminhos da verdade e do Bem.

2.3. Não podemos esquecer-nos agora que este quadro tem o seu reverso da medalha. De facto, ao mesmo tempo que somos ajudados por Deus e pela Sua Graça, pelas virtudes humanas e teologais, incluindo os dons do Espírito Santo, a percorrer os caminhos da verdade e do bem, também somos constantemente desviados desses caminhos pelo pecado e pelos vícios que lhe andam ligados.
O pecado é a recusa deliberada de cumprir os desígnios de Deus sobre o Mundo, a história e a própria pessoa enquanto tal. Em consequência, o pecado é o acto pelo qual a pessoa corta relações com o mundo e com os outros seres humanos, remetendo-se ao isolamento. E as relações são destruídas, porque a pessoa que peca não quer, de facto, respeitar a verdade e as leis da verdade inscritas no interior dos próprios seres que, por vocação, espelham em si mesmos o amor de Deus. Apesar de tudo, nem todos os pecados têm o mesmo peso ou a mesma gravidade. Por isso distinguimos o pecado mortal e grave do pecado venial e leve. Nesta linha, a tradição cristã considera especialmente graves os chamados pecados que bradam ao céu.
Além disso, todo o pecado, sendo, à partida um acto isolado e pessoal, gera novos dinamismos de pecado que afectam o próprio sujeito e também todos aqueles que estão na rede das suas relações. Aparecem, assim, os vícios contrários às virtudes. Os chamados 7 pecados capitais, na realidade são vícios que contrariam as virtudes correspondentes.
Compreendemos agora como os pecados individuais sempre tiveram e continuam a ter repercussão negativa na vida social, pervertendo as mentalidades e enfraquecendo as pessoas no esforço por construir a sua vida pessoal e a vida da sociedade segundo o bem de todos. Por isso nós falamos de pecados sociais e mesmo de estruturas de pecado, que acabam por condicionar negativamente as decisões e os actos de cada pessoa.

2.4. No emaranhado desta teia de relações e solicitações que caracteriza a vida do homem e da mulher em sociedade, o importante é cada um de nós fazer as suas escolhas com responsabilidade. E as escolhas serão sempre entre o Bem e a Verdade e os actos humanos consequentes, por um lado, e a manifesta recusa ou simples desinteresse por seguir os caminhos da Verdade e do Bem, por outro lado. Jesus Cristo é sempre um apelo forte para nós fazermos a primeira escolha e nesse apelo se resume o essencial da sua mensagem que é também o núcleo da Boa Nova Evangélica – “Arrependei-vos e acreditai no Evangelho”.
Todos desejamos que esta Quaresma seja também resposta decidida de cada um de nós ao chamamento de Cristo. Como cristãos e cidadãos queremos ficar mais dispostos a percorrer os caminhos da autêntica conversão pessoal, na prática consciente e decidida da verdadeira moral evangélica. Uma moral que há-de repercutir na transformação do mundo, segundo a transfiguração de Cristo no Tabor.

Que Deus nos ajude.


Sé da Guarda, 8 de Março de 2009
+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda

sexta-feira, 6 de março de 2009

Formação de Catequistas

Será neste próximo Sábado e Domingo, no Centro Apóstolico de D. João de Oliveira Matos que se vai realizar uma acção de formação para catequista, cujo Tema é "Desafios dos Novos Catecismos", o seu programa será:

Dia 7 (Desafios dos Novos Catecismos)
09.15 - Acolhimento
09.30 - Oração
09.45 - Desafios dos Novos Catecismos (Pe. Paulo)
11.00 - Intervalo
11.20 - Desafios dos Novos Catecismos - continuação
13.00 - Almoço
14.30 - 2 Catequeses práticas do 2º e 8º catecismos
15.20 - Avaliação das catequeses
16.00 - Como planificar as catequeses? (Pe. Paulo)
17.15 - Eucaristia

Dia 8 (Recolecção sobre a Identidade e a Es+iritualidade do Catequista)
09.15 - Acolhimento
09.30 - Oração de Laudes
10.00 - Reflexão - Identidade/Espiritualidade do catequista (Pe. Paulo)
10.30 - Reflexão Pessoal
11.00 - Intervalo
11.30 - Preparação para a Eucaristia
12.00 - Eucaristia
13.00 - Almoço
14.30 - Reflexão (Pe. Paulo)
15:00 - Reflexão em grupo
16:00 - Plenário
17:00 - Oração final

segunda-feira, 2 de março de 2009

Homilia I Domingo da Quaresma


1. A Quaresma é um tempo que convida os cristãos e as comunidades cristãs a rever a sua vida e os seus compromissos à luz da vida nova recebida no Baptismo. O Baptismo celebrado na água e no Espírito marca a direcção e o ritmo da vida tanto pessoal como comunitária de todos os cristãos e suas comunidades de Fé.
Quando a Quaresma faz apelo a uma oração mais intensa, ao jejum, à esmola e ao encontro mais frequente com a Palavra de Deus concretiza o que deve ser a vida de todo o Baptizado. Por sua vez, quando nos lembra a obrigação de dedicarmos mais tempo ao aprofundamento da Fé quer através de acções de formação quer através de tempos fortes de oração como são os retiros, a Quaresma continua a ajudar-nos a assumir as nossas responsabilidades de Baptizados. Também a própria sociedade em geral pode beneficiar deste tempo da Quaresma entendido como tempo de alguma paragem para repensar a vida e redefinir os seus caminhos para que sejam sempre caminhos de verdadeira humanização

2. A Palavra de Deus hoje proclamada na assembleia do domingo começa por recordar o facto de Deus ter salvo Noé e a sua família das águas do dilúvio. Estas águas acabaram por ser purificadoras e instrumento de salvação. A partir delas Deus pôde fazer com os homens uma aliança de paz simbolizada no arco íris. S. Pedro apresenta-nos hoje, na sua I carta, a figura de Cristo libertador no contexto de uma catequese sobre o Baptismo. De facto pelo Baptismo na água e no Espírito, cada Baptizado fica configurado com Cristo, porque nele acaba o homem velho e começa o homem novo, liberto do pecado e tornado Filho de Deus. No Evangelho de Marcos é-nos apresentado Jesus a ser conduzido pelo Espírito ao deserto, onde preparou, durante 40dias a Sua Vida Pública. É o mesmo Espírito que conduz os cristãos e as comunidades cristãs para o deserto da vida, onde como Cristo, estão sujeitos a muitas tentações, mas também onde são chamados a cumprir a missão de anunciar Cristo Ressuscitado, capaz de transformar o mundo.

3. E é neste mundo concreto onde o Espírito constantemente nos conduz que queremos exercer a nossa responsabilidade do diálogo social para encontrar os verdadeiros caminhos por onde se cumpre a dignidade de todos e de cada um dos seres humanos. E neste diálogo social a primeira pergunta a que temos de responder é a seguinte: O que é o ser humano e como é que ele deve organizar o seu agir no mundo?
De facto, a grande pergunta que todos e cada um de nós temos de colocar e à qual estamos obrigados a responder é a pergunta pela nossa identidade pessoal e pela missão que temos de cumprir no mundo. Quem somos nós, homens e mulheres que habitamos esta terra qual é a nossa missão no mundo?
Numa primeira observação, sentimo-nos muito importantes, porque chamados para grandes ideais e capazes de fazer grades coisas, mas os factos mostram que também grandes males e mesmo muitas catástrofes se deveram a decisões erradas tomadas por seres humanos. Daqui concluímos, que a nossa condição é grande e nobre, mas também que a nossa grandeza é relativa e por isso nunca podemos considerar-nos senhores absolutos da vida e da história.
Para nos ajudar a decifrar este enigma, a Revelação cristã diz que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus e nisto consiste a sua grandeza; mas diz também que, desde o início cedeu à tentação do pecado, o qual desencadeou na história do mundo um processo de confusão e de sofrimento imparáveis.
Diz mais a Revelação cristã que Cristo é o modelo perfeito e completo do ser humano, na sua grandeza e dignidade, porque Filho de Deus. Ele veio restaurar a completa dignidade humana, oferecendo a cada homem e a cada mulher a possibilidade de recuperarem na sua vida pessoal e comunitária a integridade original perdida.
Cada um de nós, na medida em que quiser levar a sério a sua verdade pessoal e a verdade do mundo sente necessidade e obrigação de definir e decidir o seu caminho de vida. E só pode ficar contente se esse caminho de vida definido e levado à prática promover o seu bem pessoal, o bem dos outros e o bem do próprio mundo.
Ao tentar definir esse caminho cada um de nós sente-se dono de si mesmo e com capacidade de escolher. Este é o valor sublime de liberdade.
Mas sente também que tem de responder perante si mesmo, perante os outros e perante a própria natureza, pelas decisões que toma, pelos actos que as levam à prática e também pelos efeitos maus ou bons que eles provocam nos outros e no mundo. Estamos perante o bem supremo da responsabilidade.
No exercício da sua liberdade e responsabilidade, quando tenta definir o seu caminho de vida para construção do seu bem pessoal e o bem dos outros, mas sente que tem de respeitar regras que ele próprio não criou. Sente que essas regras são anteriores às suas decisões e algumas mesmo anteriores a qualquer decisão humana, porque regulam a natureza e o mundo. Pela inteligência e pela razão, ele pode identificar essas leis básicas da sua constituição pessoal e da constituição do próprio mundo. Pela consciência moral, ele sente necessidade de fazer dessas regras básicas a lei da sua própria vida, no exercício da liberdade e responsabilidade. Por sua vez, o Código das leis, seja o das leis civis ou canónicas, seja mesmo o das leis morais, é posterior a esta experiência básica da necessidade que todo o ser humano tem de configurar o seu comportamento com a verdade das pessoas, da história e do mundo. Cada um de nós vive uma moral libertadora quando organiza a sua vida, com liberdade e responsabilidade, no respeito pela verdade e pelas exigências implicadas na construção do bem pessoal e social. Vive moral de escravo quando ignora, propositadamente ou não, a verdade que se lhe impõe e pura e simplesmente cumpre as leis que o obrigam como sendo um jugo ou camisa de forças.
Jesus Cristo, porque imagem perfeita de Deus Pai e modelo ou primogénito de toda a criatura veio revelar o ser humano na sua perfeita identidade.
Por isso, o seguimento de Cristo e a moral do seguimento de Cristo é o caminho mais eficaz para os seus discípulos cumprirem a sua identidade e ajudarem todos os outros seres humanos a progredirem também em humanidade.
A verdade e nunca mentira, mesmo quando é agradável aos sentidos e aos interesses passageiros de pessoas e de grupos, é que tem de ser sempre o critério para as decisões e os comportamentos das pessoas em geral.
Como em Cristo se revela a verdade em todo o seu esplendor, o seguimento de Cristo é sempre caminho de libertação.
Quando nos educamos a nós próprios e em sociedade nos preocupamos com a educação de todos para comportamentos que dão dignidade à Pessoa e às suas relações em sociedade é preciso, em primeiro lugar, procurar saber que liberdade queremos para nós e para os outros. E só há liberdade quando as pessoas se empenham na procura da verdade e na procura dos caminhos por onde a mesma verdade se pode cumprir na vida dos indivíduos e da própria comunidade.
Por sua vez, a educação para o exercício da responsabilidade pessoal e colectiva é outro factor decisivo para o bem das pessoas e para o progresso da sociedade.
Que Deus nos ajude a viver esta Quaresma na procura constante do bem e da verdade, para nosso crescimento pessoal e da própria sociedade.

Sé da Guarda, 1 de Março de 2009

+ Manuel R. Felício, Bispo da Guarda

Homilia da Celebração das Cinzas




Com esta Quarta-Feira de Cinzas, iniciamos o Tempo da Quaresma e com ele o ciclo pascal da Igreja. O Centro deste ciclo é o Mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo.
No coração deste ciclo está o Tríduo Pascal, celebrado em Quinta-Feira Santa, Sexta-Feira Santa e Vigília Pascal. A Quaresma é a sua preparação, durante 40 dias, com 6 domingos. Seguir-se-ão 50 dias de celebração da Páscoa de Jesus Cristo e da Presença do Seu Espírito na vida da Igreja e do mundo até ao Domingo de Pentecostes.
Todo este ciclo é o tempo forte da comunidade cristã, para contemplar o itinerário de Jesus até à Sua Morte e Ressurreição.
Enquanto cabeça da Igreja, Ele convida-nos a segui-lo, a morrer e a ressuscitar com Ele. Ele é o Primogénito de toda a criatura que, amando-se e entregando-se até ao fim, refez o caminho errado de Adão e abriu o caminho da vida nova para toda a Humanidade, convidada de participar na Sua Páscoa. Num mundo cheio de indecisões, amarguras e superficialidades, em que o mais importante e essencial é constantemente posto em lugar subalterno, nós acreditamos que podemos encontrar a verdadeira luz da vida em Jesus Cristo e na Sua Mensagem; acreditamos na força do Seu Espírito, que constantemente nos dá a vida e a esperança.
Esta Quaresma convida-nos por um lado a contemplar o itinerário de Jesus, na obediência total à vontade do Pai; por outro lado, convida-nos a rever os nossos caminhos. Se fizermos com seriedade o confronto dos nossos caminhos com o caminho de Cristo descobriremos a distância entre o caminho de Jesus fiel, humilde, amoroso, generoso até à morte e o percurso dos nossos caminhos.
Nessa distância está o nosso pecado; pecados que havemos de saber reconhecer, mas sobretudo querer eliminar com a nossa atitude de conversão. Precisamos, por isso, de reconhecer que somos egoístas, indiferentes, interesseiros, sensuais, agarrados às coisas materiais, pouco dispostos para o diálogo e o perdão.
A Quaresma é forte apelo de Deus para a nossa conversão e acolhimento do perdão divino que se manifesta na pessoa de Jesus Cristo.
No uso da sua pedagogia sábia e secular, a Igreja recomenda-nos para este tempo litúrgico da Quaresma principalmente 3 práticas: o jejum, a oração e a esmola, a que acrescentamos a Leitura mais intensa da Palavra de Deus. Pela oração intensificamos a comunhão com Deus; pelo jejum crescemos na autodisciplina e sobretudo na nossa disponibilidade interior para acolher as inspirações de Deus; pela esmola fortalecemos a generosidade para com o próximo; no encontro mais regular e intenso com a Palavra de Deus motivamos o encontro vivo e vital com Cristo.
Esta Quarta-Feira é marcada pelo gesto da imposição das cinzas. A cinza simboliza todo o programa espiritual da Igreja. É o reconhecimento do nosso pecado e da nossa fraqueza - “Lembra-te que és pó…”; é o sinal do nosso arrependimento e da nossa conversão – “arrependei-vos e acreditai no Evangelho”.
Vamos viver intensamente a nossa Quaresma. E Vivê-la-emos intensamente se soubermos contemplar o caminho de Jesus para a morte e ressurreição; se aceitamos o convite que nos vai ser dirigido de muitos modos ao longo dos próximos dias, sobretudo na liturgia dos domingos para percorrer o mesmo caminho que Ele percorreu. Assim aprenderemos o que é a verdadeira vida que nos é oferecida no Baptismo e ficaremos mais iniciados nela.

Catedral da Guarda, 25 de Fevereiro de 2009
+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda

Renúncia quaresmal em 2008

No ano de 2008 destinámos a nossa Renúncia quaresmal para ajuda das Vítimas das cheias em Moçambique, através da Diocese da Beira e para ajudar a requalificação do nosso Seminário do Fundão. Para cada uma das 2 finalidades entregámos a importância de 12.056 euros.
Fonte: Diocese